BASILLA SAM, DIRECTORA DA ACADEMIA DE MÚSICA SÃO PIO X

BASILLA SAM, DIRECTORA DA ACADEMIA DE MÚSICA SÃO PIO X

«Queremos também ajudar os alunos a tornarem-se melhores pessoas»

Uma nova directora este ano e novas instalações em Setembro de 2021. Os próximos meses deverão ser de crescimento para a Academia de Música São Pio X, não obstante os desafios financeiros com que se depara. Fundada em 1962 pelo padre Áureo de Castro, a instituição – uma das mais antigas escolas de música do território – é desde Agosto liderada pela pianista Basilla Sam Weng Io. A nova directora da prestigiada Academia em entrevista a’O CLARIM.

O CLARIM– É uma pianista com um percurso sólido e uma antiga aluna da Academia. Alguma vez lhe passou pela cabeça que um dia poderia vir a liderar esta instituição?

BASILLA SAM– Não. Foi algo que nunca me passou pela cabeça, na verdade. Mas diverti-me muito durante os anos que passei nesta Academia a estudar e a aprender música. Depois de me ter formado, e mesmo quando estudava no estrangeiro, sempre que regressava a Macau de férias vinha à Academia visitar os meus antigos professores. Os professores sempre foram muito amáveis e generosos. De certa forma, a Academia sempre foi para mim uma espécie de família, com a qual passei muitos bons momentos. Fiz aqui bons amigos com quem tive a oportunidade de aprender e de partilhar o que sabia sobre música. É para mim uma segunda família e foi para mim uma honra poder regressar e poder trabalhar para a Academia. É algo que nunca julguei ser possível e estou grata ao bispo Stephen Lee e também ao padre João Lau, o antigo director da Academia, por terem depositado a sua confiança em mim e me terem nomeado para o cargo. O amor que sinto por este espaço penso que poderá ser um trunfo para o exercício das funções de que fui incumbida.

CL– Dizia que é uma honra assumir a direcção de uma instituição tão prestigiada como a Academia São Pio X. É também, ainda assim, uma grande responsabilidade…

B.S.– Sim, claro. É uma honra e uma responsabilidade. Comecei a trabalhar na Academia em 2018. Na altura fazia algum trabalho administrativo básico. Agora, na qualidade de nova directora, tenho muitas mais responsabilidade. É necessária uma grande capacidade de planificação e são muitos os assuntos a que é necessário dar resposta. Por isso, sim, as responsabilidades são agora maiores do que nunca. A Academia é uma das mais antigas instituições de Macau dedicadas ao ensino da música. Quando eu era pequena, poucas crianças tinham a oportunidade de estudar música. E das que tinham, a maior parte tinha aulas de piano. O piano é o instrumento mais básico. O violino, o violoncelo e outros instrumentos já exigem uma maior entrega. Hoje em dia é mais fácil: já há muitos centros de ensino de música privados. É mais fácil para as jovens gerações de Macau aprender a tocar um instrumento. Este aspecto é, a meu ver, positivo, porque significa que há um maior profissionalismo, há muitas pessoas que estudaram no estrangeiro, que regressaram e que se dedicaram ao ensino. O ensino da música é hoje melhor do que era antes, melhor do que era quando o padre Áureo Castro fundou a Academia. Creio que é algo que o deixaria muito contente. Na minha opinião, quando ele criou esta escola tinha em mente a importância da educação musical. Ele queria fazer uso da cultura, fazer uso da arte para disseminar a beleza e a bondade. Há cada vez mais pessoas a aprender música, cada vez mais alunos a optar por uma profissão relacionada com a música e eu acho que isto é algo que agradaria muito ao padre Áureo.

CL– Aprender música é algo que continua a cativar as gerações mais jovens? Quantos alunos tem a Academia neste momento?

B.S.– Temos cerca de duzentos alunos. Cento e noventa e tal, quase duzentos. Estes alunos têm idades compreendidas entre os quatro anos e o início da idade adulta, o Ensino Secundário. No ano passado organizámos um curso de composição para adultos. Este ano temos interessados em número suficiente para voltar a organizar este curso e para solicitar a organização de exames escritos. Temos uns quantos estudantes com mais de dezoito anos. São alunos de diferentes níveis, mas muitos deles começaram a estudar connosco quando eram muito pequenos. Vê-los crescer é algo que muitos dos nossos professores valorizam. É um privilégio ver os estudantes crescer até se tornarem jovens mulheres ou jovens homens. Alguns deles acabam por fazer da música o seu percurso de vida.

CL– De que forma é que a dimensão católica da Academia se reflecte na educação que é transmitida aos alunos? A música sempre foi uma dimensão muito importante das celebrações católicas, nomeadamente no que à liturgia diz respeito…

B.S.– A Academia reforça a ideia de que a música e a educação são parte integral de uma educação holística. Quando o padre Áureo estabeleceu a Academia tinha a intenção de oferecer aos jovens do território um programa musical sistemático e forte. Aos alunos que estudam na Academia o nosso objectivo não passa apenas por lhes transmitir destreza e perícia ao piano. Não é apenas nisso em que nos focamos. Também queremos ajudá-los a tornarem-se melhores pessoas, a fomentar boas atitudes, atitudes positivas. Queremos que tenham boas maneiras, que saibam respeitar os outros e também a si mesmos. Creio que isto é algo que a Igreja Católica gostaria que os jovens e as pessoas – sejam elas católicas ou não – pudessem compreender e ter como referência, de modo a que possam ser melhores seres humanos.

CL– Quais diria que são os principais desafios com que se depara enquanto directora da Academia São Pio X?

B.S.– Há bastantes. Desafios de natureza financeira, desafios no que diz respeito à mão-de-obra e em termos de espaço. Como teve a possibilidade de ver, temos quase duzentos alunos nestas dez salas de aula e o espaço é muito limitado. Felizmente, a escola vai mudar-se para novas instalações, situadas perto do antigo Colégio Ricci, na zona do Lago Nam Van. O edifício está neste momento a ser renovado; integra a lista do património histórico de Macau e tivemos que submeter um plano às autoridades em que detalhamos todas as alterações, de forma a transformar a estrutura numa escola de música. Ao mesmo tempo, temos de preservar a integridade do edifício, pelo facto de ser um imóvel patrimonial. A empreitada em curso envolve a instalação de muita coisa, como um sistema de isolamento acústico e uma série de outros itens, e tudo isso exige dinheiro. O processo de renovação é extremamente caro e é por isso que em termos financeiros temos em mãos uma série de desafios. É claro que qualquer tipo de donativo para a Academia e para ajudar na renovação do novo edifício seria bem-vindo, mas isto é apenas um dos aspectos da parte financeira. Com a pandemia de Covid-19 tivemos de contratar uma empresa para limpar as actuais instalações todos os dias. Esta é uma despesa extraordinária a que temos de dar resposta todos os meses. Por outro lado, também há a questão da mão-de-obra. Tirando eu, a Academia só emprega duas pessoas a tempo inteiro e estes funcionários têm de gerir duzentos estudantes e catorze professores, têm de comunicar com os pais e fazer toda uma série de outros trabalhos.

Marco Carvalho

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