Devoção e Culto à Sagrada Família de Nazaré

Famílias chamadas à santidade.

É interessante notarmos que após o Natal, no Domingo seguinte, a Igreja celebra a Festa da Sagrada Família, sendo que nunca depois do dia 30 de Dezembro. Cristo quis entrar no mundo por uma família, pela mesma “porta” que todos nós tomamos, porque a família é base do plano de Deus para a existência da Humanidade. Jesus não precisava de uma família para habitar entre nós, Deus omnipotente poderia t’Elo feito descer à terra já homem. Mas Deus quis iniciar assim a obra da Redenção, para restaurar os alicerces da Humanidade, que desabaram pelo pecado original em Adão e Eva (primeira família), o primeiro casal e matrimónio criados por Deus.

Assim como os nossos primeiros pais – Adão e Eva – foram atacados pelo demónio, todas as famílias sofrem o mesmo ataque, quer se apercebam ou não. A irmã Lúcia, vidente de Nossa Senhora de Fátima, recebeu da Santa Mãe a mensagem: «A batalha final entre o Senhor e o reino de Satanás será sobre o matrimónio e a família». A irmã Lúcia deixou escrita esta mensagem numa longa carta enviada ao cardeal D. Carlo Caffarra, arcebispo de Bolonha (Itália), na qual advertiu também sobre os ataques que confrontará quem defender estas duas instituições naturais. O cardeal Caffarra recordou-nos alguns santos, como o padre Pio, que sempre defenderam a família: «Fico comovido quando leio as melhores biografias do padre Pio a respeito de como este homem esteve tão atento à santidade do matrimónio e à santidade dos esposos, inclusive, com justificável rigor em algumas ocasiões».

São João Paulo II foi também um defensor da família, deixando-nos muitos dos seus pensamentos: «A família é o âmbito privilegiado para fazer crescer todas as potencialidades pessoais e sociais que o homem leva inscritas no seu ser. Em torno da família se trava hoje o combate fundamental da dignidade do homem».

Ao contemplarmos a Sagrada Família, agora mais visível no Presépio de Natal, deve crescer em nós o amor e o compromisso pela defesa da família, e ao mesmo tempo a procura da santidade que José, Maria e o Menino Jesus nos espelham. Jesus habita entre as famílias e pretende sacralizar todos os lares e a cada um de nós.

A Família de Nazaré viveu por Deus e para Deus. É bom ansiarmos por esta graça. A Sagrada Família é uma fonte de aprendizagem e de virtudes nos caminhos da nossa fé e no desprendimento do mundo, do materialismo que nos consome e afasta do Senhor. Infelizmente, as novas gerações não acham “cool” ter-se fé, e a apostasia reina na sociedade. Muito, em parte, por culpa da família, onde muitos apenas seguem alguns sacramentos – como o baptismo ou o casamento – por tradição familiar. A família deve ser o berço da catequese dos seus membros, na entreajuda do crescimento espiritual e do conhecimento de Deus e vivência da fé.

Maria Santíssima é um exemplo para cada membro das nossas famílias. A Santa Mãe ensina-nos a meditar sobre o que o Senhor nos fala (Lucas 2:51) e a não viver com o que Ele nos transmite e ensina apenas na superficialidade. A Virgem Santíssima foi obediente a Deus, numa humildade e fé que ilumina as nossas almas. Essa humildade reflecte-se nas suas palavras dirigidas ao anjo na Anunciação: «Eis a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra» (Lucas 1:38), assim como nas palavras que dirigiu à sua prima Santa Isabel, conhecidas como Cântico de Maria, aquando da sua visita (Lucas 1:46-55). Viveu a sua vida inteiramente dedicada ao Menino Jesus, depois ao filho Deus feito homem, e por fim ao serviço da Igreja, a qual Cristo instituiu para levar a salvação a todos os povos, tendo sido «baptizada pelo fogo» do Espírito Santo no Pentecostes (Actos dos Apóstolos 2:1-4). O Evangelho mostra-nos que a Santa Mãe tem que estar sempre presente nos caminhos da nossa fé; ao nosso lado na Santa Missa, como quando esteve presente nas primeiras comunidades da Igreja primitiva. Ela que nos leva ao filho e intercede por nós como ninguém.

São José era um homem justo (Mateus 1:19), pronto a ouvir e a seguir a voz de Deus. Foi um fiel protector do Menino e da Mãe, com a missão de os guardar e proteger, tantas vezes alertado em sonho por um anjo de Deus, recebendo instruções e seguindo-as sem demora (Mateus 1:20-21; 2:13-14; 2:19-21). Com o seu trabalho humilde de carpinteiro foi o sustento da família, mostrando-nos a importância do trabalho na missão de cada um.

São Josemaría Escrivá, vinte séculos depois, foi inspirado por Deus a promover a santidade no trabalho que cada um desempenha: «Não me canso de repetir que havemos de ser almas contemplativas no meio do mundo que procuram converter o seu trabalho em oração».

Interessante notarmos o ofício de carpinteiro de São José, o pai adoptivo de Jesus. Pelos desígnios de Deus Pai, São José familiarizava Jesus com as madeiras, e muito da sua vida foi provavelmente rodeado delas, ajudando-o no seu oficio. São José “embalava” o menino Jesus neste ambiente, cujo Seu coração ia-se apertando, pois o Senhor, ao contemplar as tábuas de madeira que o circundavam, certamente meditava no Seu sacrifício salvífico para o qual caminhava. Foi-Se “consumindo” e preparando-Se para a Sua Paixão e morte, nas traves do madeiro da cruz, onde deu a vida por todos nós. Uma prova de amor excelso: «Ninguém tem mais amor do que quem dá a vida pelos seus amigos» (João 15:13). E deixou-nos um novo mandamento: «Dou-vos um novo mandamento: que vos ameis uns aos outros; que vos ameis uns aos outros, assim como Eu vos amei» (João 13:34).

O Papa emérito Bento XVI, notável teólogo e pensador cristão, na Festa da Sagrada Família, no Domingo de 27 de Dezembro de 2009, na Praça de São Pedro, partilhou com os fiéis uma breve reflexão sobre a Sagrada Família. Recordamos aqui algumas dessas palavras: «As primeiras testemunhas do nascimento de Cristo, os pastores, encontraram-se diante não só do Menino Jesus, mas de uma pequena família: mãe, pai e filho recém-nascido. Deus quis revelar-se nascendo numa família humana, e por isso a família humana tornou-se ícone de Deus! Deus é Trindade, é comunhão de amor, e a família é, com toda a diferença que existe entre o Mistério de Deus e a sua criatura humana, uma expressão que reflecte o Mistério insondável do Deus amor. O homem e a mulher, criados à imagem de Deus, tornam-se no matrimónio “uma única carne” (Génesis 2:24), isto é, uma comunhão de amor que gera vida nova. A família humana, num certo sentido, é ícone da Trindade pelo amor interpessoal e pela fecundidade do amor».

O Concílio Vaticano II chamou a atenção para a importância da família, sendo esta equiparada a uma “Igreja doméstica” (Lumen gentium), onde Deus está presente, ensinando-nos que “a salvação da pessoa e da sociedade humana estão intimamente ligadas à condição feliz da comunidade conjugal e familiar” (Gaudium et spes).

Em 1886 o Papa Leão XIII fez a consagração de todas as famílias cristãs à Sagrada Família e, em 1893, institui a festa litúrgica da Sagrada Família, que Bento XV acabou por estender à Igreja Universal, em 1921.

A Igreja tem pois promovido o culto e o envolvimento das famílias com a Sagrada Família. Consagremo-nos então à Sagrada Família e peçamos a sua intercepção junto do Pai Celeste por todas as famílias, para que estas sejam um berço da santidade e luz do Senhor para o mundo!

Miguel Augusto

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