Papa Francisco abençoa Universidade de São José
A Universidade de São José assinalou ontem oficialmente 25 anos de existência e a Santa Sé juntou-se à efeméride, com a atribuição de bênção papal. A instituição de Ensino Superior deve receber os primeiros alunos da China continental no segundo semestre do corrente ano lectivo. D. Stephen Lee está confiante que a Universidade vai conseguir manter a sua faceta internacional a médio e longo prazo.
O Papa Francisco emitiu um decreto em que concede a Bênção Papal à Universidade de São José (USJ). O documento foi ontem entregue pelo bispo de Macau ao reitor da instituição de Ensino Superior, durante a cerimónia de celebração dos 25 anos da universidade católica do território.
A sessão solene teve lugar no Auditório do Centenário de Fátima, na presença do vice-presidente da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês, Edmund Ho, da secretária para os Assuntos Sociais e Cultura, Elsie Ao, e dos membros do corpo diplomático acreditado junto das autoridades da RAEM. A cerimónia, que se prolongou por pouco mais de quarenta minutos, culminou com a inauguração, no Campus da Ilha Verde, de uma estátua do pensador e filósofo chinês Confúcio, e de um mural de homenagem às personalidades e instituições locais que mais contribuíram para o crescimento da USJ nos últimos 25 anos.
Na ocasião, a secretária para os Assuntos Sociais e Cultura – representou o Chefe do Executivo, Ho Iat Seng – defendeu que desde que foi fundada há 25 anos (então sob a designação de Instituto Inter-Universitário de Macau), a Universidade de São José conseguiu afirmar-se «como uma universidade de Macau, para Macau e ao serviço de Macau».
Elsie Ao agradeceu o contributo dado pela USJ na formação de quadros qualificados e expressou o desejo de que a instituição continue a tirar partido das características que a distinguem das demais universidades, por forma a contribuir para o desenvolvimento do projecto da Grande Baía e para a formação de quadros técnicos fluentes nas duas línguas oficiais.
Por sua vez, D. Stephen Lee, que é desde 2017 chanceler da Universidade de São José, encarou a cerimónia como uma oportunidade para dar graças por tudo o que a USJ conquistou e conseguiu construir ao longo dos últimos 25 anos. O bispo de Macau agradeceu o apoio facultado pelas autoridades do território e não esqueceu os mais de sete mil e 500 alunos de várias proveniências que ao longo do último quarto de século estudaram na USJ, conferindo-lhe um inegável cunho internacional. E é essa faceta cosmopolita que D. Stephen Lee quer que a universidade seja capaz de preservar a médio e longo prazo. «Penso que o mais importante é a universidade ser capaz de manter a sua missão como plataforma aberta a todas as nacionalidades, a todas as raças e a todas as crenças, para que os alunos possam ficar a conhecer a China e a Cultura Chinesa. É essa a minha grande esperança, a minha expectativa: que a Universidade de São José se possa tornar uma plataforma onde a Cultura Chinesa e a Cultura Ocidental se possam encontrar, possam compreender uma à outra e aprender uma com a outra», disse o prelado, em declarações a’O CLARIM. «Acreditamos que a caridade, o amor que nutrimos uns pelos outros, faz de nós uma família. No que diz respeito à educação, quando se procura a verdade, o bem e a beleza, caminhamos na mesma direcção. Não faz sentido não caminharmos juntos. A minha esperança é que a universidade seja capaz de manter esta faceta internacional», acrescentou D. Stephen Lee.
CRESCIMENTO SUSTENTÁVEL
Criada em 1996 pela diocese de Macau e pela Universidade Católica Portuguesa, a hoje Universidade de São José recebeu no início do corrente ano lectivo permissão para recrutar alunos da China continental. A autorização, emitida pelo Governo Central, deverá abrir portas à consolidação de um projecto educativo que propõe oferecer aos seus alunos experiência internacional, num contexto pautado por uma atmosfera católica. «Os nossos objectivos permanecem os mesmos. Continuar a crescer de forma firme, de modo a assegurar uma experiência internacional de grande qualidade aos nossos estudantes, numa atmosfera católica. No que diz respeito aos estudantes do Continente, esperamos poder demonstrar o mais que nos for possível às autoridades da China que a Universidade de São José se pauta pelo testemunho e pelo serviço, e está comprometida com algo que nos motiva a todos: a paz e a harmonia, a sabedoria e a educação», disse a’O CLARIMo reitor da Universidade de São José, diácono Stephen Morgan.
Numa primeira fase, e a título experimental, a USJ vai poder admitir alunos do interior da China nos programas de pós-graduação em Arquitectura, Administração de Empresas, Sistemas de Informação e Ciências. O processo – garantiu Stephen Morgan – está a despertar grande interesse do outro lado das Portas do Cerco, para grande surpresa dos responsáveis da Universidade de São José. «Estamos com os olhos postos no processo de recrutamento para o próximo ano, uma vez que a autorização já chegou com o ano lectivo em andamento. Já vamos admitir alguns alunos no segundo semestre, mas o nível de entusiasmo, o nível de interesse é muito elevado, e o nosso maior problema é que vamos ter de dizer “não” a muita gente», revelou o reitor.
Garantido que está aquele que foi durante muitos anos o principal objectivo da universidade, a grande prioridade passa agora por consolidar a qualidade do ensino leccionado, até porque a oferta em termos de programa curricular já se adequa à realidade do território. «Temos um leque bastante diversificado de programas de Mestrado e de Bacharelato, que servem bem a realidade de Macau. É muito importante fazer o máximo de coisas que nos for possível, mas também gerir o que temos. Os actuais programas académicos servem bem o nosso estatuto. Talvez dentro de dois ou três anos possamos introduzir alguma especialização ao nível dos Doutoramentos», concluiu Stephan Morgan.
Marco Carvalho