Realidade contraria o politicamente correcto.
O tráfico de seres humanos requer um alto grau de sensibilização junto da população de Macau para que o problema seja combatido de forma conveniente, defende Joni Cheng, dinamizadora do movimento pró-vida na RAEM. Exemplo disso é a falta de salas de amamentação no território: o problema foi encarado de frente e os velhos costumes foram postos de lado.
A dinamizadora do movimento pró-vida em Macau, Joni Cheng, considera que o tráfico de seres humanos é um problema que afecta o território, apesar dos dados oficiais divulgados anualmente pela Polícia Judiciária revelarem o contrário. As acções de sensibilização junto da população é a chave para combater este e outros problemas que recaem no âmbito pró-vida.
«Todas as cidades têm os seus próprios problemas sociais. Em Macau, com tantos casinos e estando bastante perto da fronteira com a China Continental – ainda mais do que quem esteja, por exemplo, em muitas partes de Hong Kong –, julgo que há um problema relacionado com o tráfico de seres humanos», disse Joni Cheng.
«A indústria hoteleira e dos casinos em Macau é o espaço onde existem estes problemas relacionados com o tráfico de seres humanos, tais como a prostituição, entre outros. Pessoas a trabalhar nos hotéis e nos casinos em horários diferentes é algo que também cria muito problemas familiares», frisou, acrescentando que «não há apenas o tráfico de seres humanos, porque também há outros tipos de problemas sociais, tais como a violência doméstica».
Questionada se o Governo de Macau está a fazer vista grossa ao tráfico de seres humanos, preferiu invocar o trabalho da irmã Juliana Devoy, directora do Centro do Bom Pastor: «Organiza uma conferência anual» que «tem sido apoiada pelo MGM».
«Tem trazido maior consciencialização sobre a problemática ao convidar membros do Governo. Há alguns anos era também o principal contacto de apoio às vítimas. Numa dessas conferências convidou as operadoras do Jogo, no sentido de darem formação aos departamentos de segurança ou trabalhadores da linha-da-frente para identificarem possíveis vítimas do tráfico de seres humano», recordou.
Referindo que «provavelmente também haverá vítimas a trabalhar nas saunas», Joni Cheng lembrou que «a responsabilidade» de implementar medidas e de fiscalizar «compete ao Governo e à Polícia», respectivamente.
Amamentação
A amamentação é um claro exemplo em como a sensibilização para a falta de locais adequados para esta prática pode combater as injustiças sociais, as mentalidades mais conservadoras ou alguma espécie de discriminação.
«Uma amiga minha abriu no escritório dela uma sala para amamentação, que também está aberta ao público. Se houver alguma mãe que esteja nas imediações e que precise, há esta sala», exemplificou Joni Cheng, que deu ainda a conhecer o caso de um pai que ao ficar num hotel do território sentiu-se indignado pelo seu filho ter sido mandado amamentar na casa de banho, questionando a razão para não haver salas de amamentação.
«Até nós, adultos, não comemos na casa de banho. Então por que fazer isso a um bebé? E assim começou a pensar-se nesta opção», vincou Joni Cheng, que foi directora de vendas num hotel do Cotai.
«Ao falarmos do tema pró-vida as pessoas facilmente pensam no anti-aborto. No entanto, compreende um raio mais alargado: o tráfico de seres humanos, o modo como se apoia os valores da família e até mesmo algo que ninguém se lembra, como é o caso da amamentação», referiu.
Joni Cheng foi membro e voluntária da Comissão Pastoral Diocesana para o Casamento e Família (DPCMF, na sigla inglesa), da diocese de Hong Kong, entre 2016 e 2017. A 8 Maio de 2006 participou na Marcha pela Vida em Roma (Itália), coincidindo com o Dia da Mãe. No mesmo ano esteve presente na primeira edição da Marcha pela Vida em Hong Kong.
Marcha anti-aborto em Hong Kong (Caixa)
A DPCMF, a Alegria da Vida e a Ásia para a Vida realizam, a 25 de Março, Domingo de Ramos, a 3ª edição da Marcha pela Vida, que terá início na igreja de Nossa Senhora do Carmo, em Wanchai, caminhando em direcção ao Conselho da Igreja de Jesus na China, na RAEHK. O evento irá passar em frente à Associação de Planeamento Familiar de Hong Kong, a única entidade que pode realizar abortos de forma legal no território vizinho.
A’O CLARIM, o pioneiro dos 40 Dias para a Vida e da Marcha pela Vida em Hong Kong, Joseph Woodard, realçou a «saudável estrutura social» da antiga colónia britânica, fruto de «inúmeras ONG e ministérios religiosos que se preocupam com as pessoas marginalizadas, tais como os sem-abrigo e, mais recentemente, as vítimas de tráfico de seres humanos». Algo que, no seu entender, não acontece com o aborto. «E os bebés que ainda não nasceram? Existe alguma voz para eles?», atirou.
A organização espera ultrapassar o número de participantes do ano passado, a rondar as oitenta pessoas.
PEDRO DANIEL OLIVEIRA
pedrodanielhk@hotmail.com
P.D.O. com J.Y.